segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Que Lado Afinal?

Tenho o hábito de sempre achar e dizer que é preciso posicionar-se, ter uma opinião. Mesmo que pareça errada, tenha uma. Pois é, por esses dias quase foi por terra esse meu discurso.

Escutava ao longe o jornal do almoço. O assunto em questão era a criação do Instituto Municipal de Saúde da Família em Porto Alegre (fundação pública de direito privado com contratação via concurso, mas permite cargos de comissionados), foi automático, logo pensei: lá vem cabide político com grana da saúde, mais uma “tetinha” para os afilhados, com cargos e mais cargos. Ainda mais com os partidos que governam a capital, que adoram uma boquinha. Até aí tudo normal.

Mas quem não gostou nada da idéia foi o SIMERS (Sindicato Médico do Rio Grande do Sul), que decidiu fazer uma oposição ferrenha ao projeto de criação da fundação.

Na sequência, Lasier Martins deu a oportunidade ambos os lados defender suas posições (embora ele próprio deixe clara sua opinião). O representante do prefeito José Fortunati (desculpe não ter guardado nomes) demonstrava bastante tranquilidade ao defender a criação da fundação. Deu exemplos de cidades que já tem suas fundações de saúde. Bem diferente do representante do sindicato médico, que defendia suas convicções de maneira tão fervorosa, com uma inquietude que parecia haver formigas na cadeira. Mas segundo o mesmo a fundação irá prejudicar a saúde pública da capital, se é que ainda é possível piorar o SUS, não só na capital, mas por aqui também (principalmente aqui).

Observando essa situação, logo veio em minha mente aquela pergunta que não quer calar. Mas antes que eu a fizesse o próprio Lasier cantou a pedra:

- Doutor, seria apenas preocupação com a saúde pública ou seria apenas a defesa dos interesses da classe, o velho corporativismo médico?

Podemos tomar como exemplo claro da nocividade desse corporativismo, a guerra travada pelo presidente americano Barack Obama, para aprovar a reforma no sistema de saúde americano, que exclui mais de 46 milhões de pessoas. Lá como aqui também há desculpinhas esfarrapadas. Lá o “desdobre” é a ”ideologia”. Desde os tempos de Kennedy os conservadores chamam essa reforma de “medicina socialista”, intervenção estatal, e por aí vai o discurso.

Lá um cidadão que adoece e não tem seguro de saúde nem condições de manter o tratamento, precisa hipotecar a casa ou vender algum bem. Tanto que a maior causa de falências pessoais nos Estados Unidos refere-se às contas da saúde. Isto é o mesmo que falir uma empresa.

Aqui não falimos desta maneira, mas o “crime” tem requintes de crueldade, pois nos matam aos poucos, nas filas, nos corredores, com muita morosidade.

Tanto lá como aqui essa situação existe para favorecer os interesses pessoais e das grandes empresas, grupos hospitalares, seguradoras, clínicas, indústria farmacêutica, e é claro os velhos parasitas politiqueiros (porque político é outra coisa).

Não estou com isso querendo ofender os profissionais da medicina, nem dar a entender que são um bando de mercenários. Pois existem muitos médicos que são realmente sensíveis à delicada situação da saúde pública.

Mas infelizmente nunca vi a classe se mexer de forma incisiva, para garantir melhorias nas redes públicas de atendimento, já que a classe médica é muito influente na política nacional.

Não estou com isso me posicionando de forma favorável ao prefeito da capital, porque vai haver ali uma farra de cargos de confiança, e com certeza será um grande mercado livre para os partidos. E meus queridos, tenho a impressão que essa moda vai pegar... Vamos ficar de olho nessa turma.

Quanto ao meu lado? É o nosso lado, o lado de quem não ganha nada com isso, vê o SUS ser uma mercadoria, mas quem paga essa conta somos nós, e quem perde são os mais pobres.

"Sempre haverá pensamentos conflitantes quando o assunto é derrubar edificações em áreas de preservação permanente”


Por Jorge Martins Filho

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