terça-feira, 29 de março de 2011

Entrevista com Rafinha Bastos

No palco e ao vivo no "CQC", Rafinha Bastos é sempre ácido no humor. Mas enquanto brinca com seu filho ainda bebê, o jornalista e comediante está desarmado. Fica bobão e babão como qualquer pai. Entre uma piada espontânea e outra, sua mulher, Junia Carvalho, com quem é casado há 12 anos, ainda acha graça “nas novas, né...”, confessa.

Depois de viajar o Brasil durante três anos, Rafinha se prepara para lançar seu primeiro espetáculo solo, “A Arte do Insulto”, em DVD, no dia 24 de março durante o Risadaria. Em seguida, já engata a estreia de “Apenas uma Boa Pessoa”, um texto de stand-up com título carregado de ironia, que promete, como todos os outros, vir cheio de provocações com garantia de boas risadas. Além do show, nesta conversa, ele reflete sobre o papel do jornalismo e defende a qualquer custo sua liberdade de expressão.

Quando você decidiu deixar o jornalismo (Rafinha chegou a trabalhar na RBS, no Rio Grande do Sul) para fazer comédia como profissional?
RAFINHA BASTOS: Desde 1999 produzia vídeos de comédia para a internet. Neste mesmo ano, fui para os Estados Unidos e vi o stand-up comedy na televisão. Já tinha um movimento aqui no Brasil, com nomes como o Sergio Rabelo, mas não tinha esse nome, não era organizado, digamos.

Como se monta um espetáculo de stand-up?
Um texto pode ser um trechinho de dois minutos ou um solo de 1h10. O solo nada mais é que uma união de trechinhos. Juntar uma coisa na outra não é o problema, problema é fazer esses dois minutos funcionarem.

E qual é o seu processo de criação?
Não tenho um método. Só preciso sentar para escrever. O texto fica espontâneo porque, mesmo sendo histórias que não necessariamente aconteceram comigo, são coisas que saíram da minha cabeça, por isso soa autêntico.

O “Apenas uma Boa Pessoa” está pronto?
Está. Estou só montando todas essas coisas que criei enquanto encenava “A Arte do Insulto”. Fui criando coisas ao mesmo tempo que não coloquei neste show do DVD.

A proposta então é completamente diferente do “A Arte do Insulto”?
É, mas tem uma ironia no título e estarei vestido como presidiário na foto do cartaz. Eu naturalmente tenho um texto mais pesado. Neste novo falo sobre estupro, religião... Não é apologia nem nada, são coisas que penso e coloquei no papel. No “A Arte do Insulto” quis marcar território.

Temas comuns no seu texto, como religião e preconceito, continuarão presentes?
Sempre gostei de falar de religião. A fé gera uma hipocrisia tão grande. As pessoas depositam tanta
responsabilidade e tanta expectativa num ser que não existe. Acho uma piração meio louca isso. Todo mundo carrega uma culpa meio católica, mesmo quem não é católico. O casamento, o não trair, morrer e ser enterrado... É uma moral que vai acima das nossas possibilidades. As entidades estabelecidas acabam virando alvo de piadas inevitavelmente.

A sua família é judaica, você não segue o judaísmo?
Meu pai é judeu, minha mãe não. Me considero um agregado. Meu pai não me obrigou a me batizar. Acredito em Deus, mas não tenho religião.

O humor tem que ter esse lado provocativo?
O humor não tem nenhuma função. Quem tem é o comediante. Depende da maneira como você vê e do que você acha engraçado. Acho engraçado mexer nessas coisinhas, provocar um pouquinho aquela risada que traz um certo desconforto, porque isso está mexendo de alguma forma (com o público). Não tenho nenhum objetivo de educar. Se você fixa uma regra, provocar ou educar, acaba perdendo um pouco da graça.

No "CQC", por exemplo, através do humor, você sempre vai deixando alguma opinião aqui e ali. O humor é uma forma também de dizer algumas verdades?
Sim. E no "CQC", realmente, desde o começo, eles entenderam que meu humor seria esse. Não seria o cara mais amado, não ia ser aquele com quem as pessoas se identificariam mais, não sou o mais popular. Muita gente não gosta de mim porque eu não tenho censura, freio para piada, faço o que vem à cabeça. O preconceito surge do incômodo. Se você se incomoda com o que eu falei, talvez carregue este preconceito com você, mais do que eu. Poder tirar sarro de um cara de cadeira de rodas significa que talvez eu possa me aproximar mais rápido dele do que alguém que tem pena. Quem
se incomoda não é o cadeirante, são as pessoas que sentam ao seu lado. Ele adora se sentir representado, porque, se no humor a gente pode falar de religião, de tudo o que toca indiretamente as pessoas, por que não tocar, não brincar?

Existe mesmo uma onda do politicamente correto?
Estamos vivendo uma onda sim. Nos Trapalhões, eles chamavam o Mussum de negro bêbado. Hoje uma piada dessas causa um choque horrível.

Mas por que você acha que isso mudou tanto?
As nossas celebridades, os apresentadores de televisão tem medo de falar o que pensam. O mundo está vivendo
uma "lucianohuckzação". Todo mundo é amigo de todo mundo, bom moço, um cara bacana. Tudo meio bobo.

Como isso interfere na maneira da sua geração - como Danilo Gentili, que também faz piadas provocativas -- fazer humor?
Tem muita gente nessa geração que ainda é muito bundona também. Os caras que são hoje grandes na Globo não tocam em nenhuma ferida. Se um dia me impedirem de fazer isso não fico mais na televisão, porque não vai valer a pena. Até me vendo quando faço um comercial, quando dou minha cara para um produto. Posso vender a minha imagem, mas nunca o meu discurso.

Tem algum tema que pra você não tenha graça?
Não. Às vezes não tenho vontade de fazer uma piada, mas não me imponho um limite. Acho que aí começaria a perder a graça. As pessoas às vezes exigem, por exemplo, que eu diga alguma coisa sobre o terremoto no Japão. Hoje não tenho vontade de fazer piada sobre esse assunto, mas, se um dia vier e a piada for boa, eu vou fazer. Aprendi depois de muito tempo a não chutar cachorro morto. Por exemplo, por que vou fazer piada do cara do "Big Brother"? Para no outro dia aparecer na revista, ou no jornal, “Rafinha contra Serginho”. A piada gera repercussão às vezes, principalmente quando envolve nomes e geralmente dá merda.

Você toma cuidado com o que diz na internet?
Nunca tomei. Repercussão ou rejeição das pessoas acontece muito. Também acho que é função não deixar de fazer. Deixando de fazer, você está andando para trás. É importante exibir os seus pensamentos mais sórdidos e
seus preconceitos, porque todo mundo tem preconceitos das mais diversas coisas.

A internet carrega uma linha muito tênue entre te ajudar e te afundar, não é?
Sim, mas, se você não se preocupa com a repercussão o tempo inteiro, você faz o que quer. Não sou escravo de quem gosta do meu trabalho e nem do que digo. Posso vir a me arrepender de alguma coisa, porque fazer merda é humano. O que vejo de outros colegas comediantes é a vontade de crescer. E a vontade de crescer sem a veracidade do discurso morre por si só. Do que adianta chegar na televisão e não dizer o que pensa, brincar com o que quer?

De uma forma ou de outra, o stand-up acaba levando mais gente para os outros gêneros do teatro. Você concorda?
Teatro é caro. É caro levar uma peça com 15 pessoas para Ribeirão Preto. Hoje, um produtor prefere levar o Rafinha pra cidade dele do que a peça da Glória Menezes, porque a peça envolve cenário, transporte, passagens. Eu vou sozinho e levo três mil pessoas para a casa. Tem dois lados nisso: levamos mais gente sim para o teatro, mas também a gente detona muita praça. Mas também nunca achei que o teatro fosse o melhor lugar para o stand-up.

Por quê?
No teatro o cara fica mais distante, é uma linguagem um pouco distante. E nós trabalhamos com uma linguagem mais coloquial, papo furado. Dá certo? Dá, mas não acho que é o lugar mais bacana. Sempre gostei de fazer em bar.

Por isso a criação do Comedians?
O bar é o quintal de casa. Quando a gente começou, em 2004, para testar uma piada era só no show semanal. Se esquecesse a piada fudeu. Hoje temos três shows por dia no Comedians. Se a piada não funcionou no show das 20h, posso testar de novo no das 22h e no das 00h.

No "CQC", você fez o quadro Proteste Já e agora está também no "A Liga". Desde a redação na RBS já havia então uma vontade de trabalho social?
A vontade de informar já tem uma preocupação social, mas com o Proteste Já foi uma das poucas experiências que eu tive – e talvez no país – de realmente confrontar. O jornalismo no Brasil é muito bundão. A gente já aprende na faculdade isso. É quase como na Igreja: você tem que ser imparcial, deixe que eles mostrem os diferentes lados. Às vezes está nítido que existe o problema e que precisa ser resolvido. A imprensa às vezes pode tomar partido e pode representar realmente a comunidade frente as autoridades.

E por que saiu do quadro, muitos processos?
Porque comecei a fazer o "A Liga" e ficou muito pesado. Nunca tive muita represália, mas era cansativo mesmo.

No "A Liga" você trabalha como jornalista com temas delicados. Como ver tudo isso de perto mexe com você?
O objetivo do programa é fazer com que mexa mesmo. É isso que acho que é genuíno: ver uma situação e passar para as pessoas realmente o que está sentindo. É menos coxinha e mais humano. Você indo fazer um trabalho destes como jornalista não tem como não ser tocado.

Dentro deste contexto, de pouca educação e muita corrupção no país, qual deveria ser o papel da televisão no Brasil?
A imprensa faz bem ou, pelo menos, há muito tempo nós sabemos mais ou menos o que está acontecendo. Esse jornalismo nunca é completamente imparcial. Pra mim, a evolução disso seria perder essa arrogância do jornalismo convencional e entrar mais nas histórias, conseguir contá-las de uma maneira mais interessante e inteligente. O jornalismo precisa ser mais humano e perder esse ranço de cuspir informação da maneira como é feita agora.


Entrevista concedida ao site www.colheradacultural.com.br


Diego Moreira
Administrador, empresário e aspirante a palestrante.
Apaixonado por carnaval, música, cerveja e mulher (não necessariamente nessa mesma ordem!), é torcedor fanático do Colorado e da Escola de Samba Unidos da Cova da Onça. Acredita no potencial humano, porém anda um pouco desacreditado com a humanidade como um todo.
SIGA NO TWITTER: twitter.com/AdmDiegoMoreira

segunda-feira, 28 de março de 2011

Esquenta BATIRIA!

Chegamos ao Esquenta BATIRIA pós-carnaval 2011 em Uruguaiana.

Este ano, o terceiro melhor carnaval do país reservou boas surpresas para os foliões. Os Rouxinóis desfilaram muito bem, assim como Bambas da Alegria, que desbancou a Ilha do Marduque na terceira posição. Outras escolas do Grupo Especial também demonstraram que estão aprendendo a fazer carnaval sério e com responsabilidade.

A grande campeã, ou melhor, bicampeã, foi a Unidos da Cova da Onça, trazendo o arroz como enredo, fez mais uma vez a Avenida Presidente Vargas tremer quando passou, comprovando que tem a maior torcida de Uruguaiana. O título foi decidido apenas nos quesitos de desempate, pois Os Rouxinóis disputaram até o final o título.

Acadêmicos do Negão se apresentará no Grupo Especial ano que vem, no lugar de Imperadores do Sol, rebaixada.

Veja a colocação e a pontuação do Grupo Especial:

1º. - Cova da Onça: 438,2 pontos
2º. - Os Rouxinóis: 438,2 pontos
3º. - Bambas da Alegria: 436,6 pontos
4º. - Ilha do Marduque: 430,4 pontos
5º. - Apoteose do Samba: 422,4 pontos
6º. - Acadêmicos de São Miguel: 421,4 pontos
7º. - Deu Chucha na Zebra: 417,5 pontos
8º. - Imperadores do Sol: 391,5 pontos


Considerações gerais sobre os desfiles do Grupo Especial:

Imperadores do Sol: apresentando muitas dificuldades, a escola foi rebaixada com justiça, pois fez um desfile precário em se tratando de quesitos técnicos, com evolução, conjunto, mestre sala e porta bandeira muito fracos. Em 2012 no Grupo de Acesso, a escola do Bairro São João deve ser campeã, porém deve aprender a fazer carnaval de forma mas técnica.

Deu Chucha na Zebra: a escola só se safou do rebaixamento em virtude dos dois péssimos desfiles da Imperadores do Sol. Fantasias e alegorias muito fracas, além de evolução e harmonia prejudicadas. A escola deve repensar seu modo de fazer carnaval se quiser voltar a ser como foi um dia.

Acadêmicos de São Miguel: mais uma escola que demonstrou crescimento técnico e profissional. Além de já possuir sua sede própria, uma das escolas mais jovens de Uruguaiana com apenas quatro anos já se posiciona no Grupo Especial por três anos consecutivos.

Apoteose do Samba: retornando ao Grupo Especial, a Apoteose realizou um bom desfile, e promete incomodar daqui a alguns carnavais se continuar nesse ritmo de fazer carnaval sério e profissional.

Ilha do Marduque: conhecida por fazer desfiles técnicos, este ano a Marduque teve vários pecados neste sentido, além dos problemas com suas alegorias na primeira noite. Mas o que mostra que a Ilha não veio bem é que na segunda noite, com tudo correndo normalmente, mesmo assim a escola ficou na quarta posição. Louvo a força da comunidade da bairro Mascarenhas de Moraes, mas agora é pensar no carnaval 2012 e buscar o título.

Bambas da Alegria: uma das gratas surpresas em 2011, a escola mostrou que pode sim quebrar a hegemonia das "três grandes" do carnaval uruguaianense. Crescendo ano a ano, Bambas da Alegria desfilou bem em relação ao ano passado, e pode estar surgindo uma nova campeã para os próximos anos se a agremiação seguir trabalhando firme e pra frente como está fazendo.

Os Rouxinóis: a verde e branco mostrou a que veio, e sem alarde, disputou décimo a décimo o título. Para muitos encarado como surpresa, eu já previa isso. Nunca se pode duvidar da força e garra da mais tradicional escola de samba de Uruguaiana, que virá "mordida" no próximo ano.

Cova da Onça: bicampeã com justiça, mostrou muito luxo na avenida, porém carnaval não é só visual, também há aspectos técnicos onde a escola pecou, e por isso deixou o título em aberto. A diretoria da escola está de parabéns pelo ótimo trabalho realizado e pelo título.

No decorrer do ano, a coluna Esquenta BATIRIA volta sempre. Vou procurar escrever pelo menos uma vez por mês, trazendo novidades do Carnaval de Uruguaiana e Brasil afora, justificativas e muito mais, além das sugestões e opiniões que começarei a escrever na semana que vem. Espero que as escolas de samba trabalhem no seu carnaval o ano inteiro.


Diego Moreira
Administrador, empresário e aspirante a palestrante.
Apaixonado por carnaval, música, cerveja e mulher (não necessariamente nessa mesma ordem!), é torcedor fanático do Colorado e da Escola de Samba Unidos da Cova da Onça. Acredita no potencial humano, porém anda um pouco desacreditado com a humanidade como um todo.
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sexta-feira, 25 de março de 2011

Esquenta BATIRIA - Primeira noite de desfiles

Não gostaria de falar isso, mas a desorganização, e principalmente o desrespeito com o público, continuam no Carnaval de Uruguaiana. Começo este Esquenta BATIRIA falando isso porque ontem, na abertura do carnaval fora de época de Uruguaiana, os desfiles começaram com pouco mais de duas horas de atraso. O motivo? Segundo foi informado, a corte teve problemas "logísticos" para chegar à passarela do samba. Fica a pergunta: como é possível ter "problemas logísticos" em Uruguaiana, uma cidade média de 130 mil habitantes que nem trânsito considerável tem?

Bom, falando dos desfiles em si, vamos ver o resumo das escolas que passaram ontem pela Avenida Presidente Vargas. Sempre lembrando que meus comentários são feitos a partir da visualização que tenho no camarote, situado na parte final da passarela (lembrando ainda que desfilo em duas escolas: Imperadores do Sol e Bambas da Alegria).

Amanhã postaremos o parecer dos desfiles da segunda noite, e segunda os comentários sobre os resultados e posteriormente analisaremos tudo sobre o Carnaval.


E.S. AMIGOS DA COMUNIDADE

A escola de samba mirim foi a primeira agremiação a desfilar no carnaval 2011 de Uruguaiana. Com bastante alegria e empolgação, as crianças animaram o público mesmo com uma rápida chuva fraca, que parou de cair durante o desfile.



ALIANÇA DO SAMBA

A escola estreante na disputa de Grupo de Acesso entrou na Avenida Presidente Vargas por volta 23:30hs. O público recebeu a agremiação de forma animada, em pé e cantando o refrão do samba da entidade, que busca a primeira participação no Grupo Especial.



E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DA VILA JÚLIA

A escola simplesmente não compareceu ao seu desfile. Mais uma falta de respeito com o público, e além do mais, com a própria seriedade do espetáculo, uma vez que a entidade recebeu verbas da Prefeitura (como todas as outras) e não apresentou seu desfile. Os órgãos públicos deveriam exigir uma prestação de contas das escolas, pois há dinheiro público envolvido.


S.R.C.C. IMPERADORES DO SOL

A Imperadores do Sol entrou na passarela buscando permanecer na elite do carnaval uruguaianense. A escola, que vem se auto afirmando nos dois últimos carnavais e cada vez mais consegue realizar desfiles com aspectos técnicos.

A entidade está na luta para manter-se no elite do Carnaval de Uruguaiana no próximo ano.

De forma geral, o desfile foi tranquilo, sem maiores problemas aparentes.

Bateria: não comprometeu, mas poderia ser mais criativa nas bossas; deve perder alguns décimos.
Samba enredo: samba com ritmo agradável e refrão fácil, que contagiou o público; sem maiores descontos.
Harmonia: muitos componentes não cantavam o samba; a harmonia do carro de
som foi satisfatória.
Evolução: aparentemente, sem maiores problemas; apenas alguns espaços entre alas que podem comprometer as notas.
Enredo: bastante abstrato, pois trata da música brasileiro como um todo; pode se tornar de difícil compreensão para os jurados.
Conjunto: sem maiores problemas.
Alegorias e adereços: em relação ao ano anterior, as alegorias deram um salto de qualidade, mas notei algumas falhas de concepção e acabamento que podem comprometer.
Fantasias: em sua maioria bem acabadas e bem concebidas, porém um pouco
abaixo do que se espera para o Grupo Especial.
Comissão de frente: fantasia criativa, porém deixou a desejar na performance e movimentos.
Mestre sala e porta bandeira: sem maiores problemas.
Abre alas: foi o carro mais imponente e melhor trabalhado da escola, com destaque para as esculturas; pequenas falhas de acabamento.



S.R.C. APOTEOSE DO SAMBA

Assim como a Imperadores do Sol, a Apoteose do Samba busca permanecer na elite do carnaval em 2012.

A escola realizou um bom desfile no seu retorno ao Grupo Especial, e a expectativa é que na segunda apresentação a Apoteose venha mais compacta ainda.

De forma geral, o desfile ocorreu sem maiores dificuldades.

Bateria: não comprometeu; teve bom andamento com destaque para o trabalho do surdo de terceira da bateria do mestre Samuca; poderia ser mais ousada.
Samba enredo: samba bem ritmado e bom de ouvir e cantar; refrão forte; sem maiores descontos.
Harmonia: alguns componentes não cantavam o samba; a harmonia do carro de som foi ótima com a voz de Leonardo Bessa.
Evolução: aparentemente, sem maiores problemas.
Enredo: um pouco abstrato por tratar do misticismo, porém de razoável compreensão ao se traduzir as origens do misticismo.
Conjunto: sem maiores problemas; apenas diferenças entre as fantasias, algumas possuíam bastante luxo e outras alas pouco ou nenhum luxo.
Alegorias e adereços: bem trabalhadas, porém pequenas; pode comprometer a nota final.
Fantasias: na maioria das alas, bem trabalhadas e com certo grau de luxo, porém algumas alas notou-se a falta de plumas, penas e etc.; pouco abaixo do que se espera para o Grupo Especial.
Comissão de frente: dentro do contexto do enredo; coreografia bem trabalhada, porém houveram pequenas faltas de sincronismo.
Mestre sala e porta bandeira: sem maiores problemas.
Abre alas: por ser um quesito, poderia ter sido mais trabalhado e melhor aproveitado; dificilmente tira 10.



E.S. DEU CHUCHA NA ZEBRA

Com sérias dificuldades para fazer seu carnaval, uma das escolas de samba mais tradicionais de Uruguaiana mostrou muito pouco para quem almeja reconquistar presença entre as três primeiras do carnaval.

Se antes a agremiação garantia sua presença no Grupo Especial com seus desfiles, esse ano ela irá brigar para permanecer na elite em 2012.

De forma geral, o desfile se deu sem maiores dificuldades, porém o nível das alegorias e fantasias foi sofrível comparado a outros desfiles da "Namoradinha do bairro Santana.

Bateria: o único ponto alto da escola; deve ser um dos únicos quesitos 10.
Harmonia: alguns componentes não cantaram o bom samba; o carro de som foi satisfatório.
Evolução: criou-se um "buraco" de aproximadamente 50 metros quando o casal de mestre e porta bandeira apresentou-se ao segundo módulo de jurados e a escola prosseguiu em ritmo normal de desfile, erro infantil que custará perda de pontos; correria na escola para "tapar" o referido buraco.
Enredo: o enredo cultural por si foi bem desenvolvido, com foco; enredo de fácil assimilação.
Conjunto: a escola pecou nas fantasias, alegorias e harmonia; quesito muito prejudicado.
Alegorias e adereços: bem abaixo do que se esperava; alegorias de nível de Grupo de Acesso.
Fantasias: fantasias muito simples; pela simplicidade, a percepção do enredo pode ficar prejudicada.
Comissão de frente: outra boa surpresa; dentro do contexto do enredo, coreografia bem trabalhada, entrega dos participantes; pequenas faltas de sincronismo na coreografia.
Mestre sala e porta bandeira: ótima apresentação.
Abre alas: assim como as outras alegorias, bem abaixo do padrão de Grupo Especial.



E.S. UNIDOS DA ILHA DO MARDUQUE

O sonho do Beija-Flor acabou para a Ilha do Marduque. A escola que sempre realiza desfiles técnicos, dessa vez deixou muito a desejar. Em termos de fantasias, alegoria, harmonia e animação foi tudo perfeito, porém um defeito no segundo carro fez com que a escola perdesse tempo, além de alas terem passado a frente do carro com problemas, o que desconfigurou praticamente todo o desfile da escola.

Uma das favoritas ao título, a escola do bairro Mascarenhas de Moraes está longe de conseguir o campeonato de 2011.

Bateria: mais uma vez a bateria do mestre Renatinho está de parabéns; tudo perfeito, o 10 deve vir com naturalidade.
Samba enredo: o samba parecia difícil de cantar, mas cresceu na avenida; Jorginho da Beija-Flor soube cadenciar o ritmo.
Harmonia: apenas alguns componentes não cantavam o samba; no carro de som tudo correu normalmente.
Evolução: perfeita atá a quebra do segundo carro; a escola correu para terminar o desfile a tempo; pequenos buracos; impossível alcançar o 10.
Enredo: de fácil compreensão; porém ficou confuso após a quebra do segundo carro, quando alas passaram à frente do mesmo.
Conjunto: bom, porém atrapalhado pela quebra da alegoria.
Alegorias e adereços: muito bem acabadas; destaque para as esculturas dos carros alegóricos.
Fantasias: bem trabalhadas, dentro do contexto do enredo; sem maiores problemas.
Comissão de frente: boa coreografia; boa utilização do elemento alegórico; força; sincronismo; detalhe que a fantasia é a mesma da comissão de frente de Beija-Flor em 2009.
Mestre sala e porta bandeira: sem maiores problemas.
Abre alas: carro bem trabalhado, bem esculpido, detalhe para as esculturas.



Crédito das fotos: clicrbs e site Samba Sul (www.sambasul.com)

Diego Moreira
Administrador, empresário e aspirante a palestrante.
Apaixonado por carnaval, música, cerveja e mulher (não necessariamente nessa mesma ordem!), é torcedor fanático do Colorado e da Escola de Samba Unidos da Cova da Onça. Acredita no potencial humano, porém anda um pouco desacreditado com a humanidade como um todo.
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quarta-feira, 23 de março de 2011

Esquenta BATIRIA!

Semana decisiva no carnaval de Uruguaiana. Pois é meu povo, a partir de quinta-feira as nossas escolas de samba vão mostrar o seu trabalho de quatro meses (infelizmente, pois carnaval de qualidade e auto sustentável se faz em doze meses!).

Os ensaios técnicos mostraram o que as principais agremiações tem de melhor e também a corrigir para os desfiles. Nesta semana vamos falar no Esquenta BATIRIA sobre as escolas de samba Unidos da Ilha do Marduque, e a atual campeã, Unidos da Cova da Onça.

Mas primeiro, vamos às críticas. Domingo desfilei no ensaio técnico da Bambas da Alegria, e assisti o ensaio técnico da Unidos da Cova da Onça. Em Uruguaiana, ainda não se trata desfile técnico com a importância que o mesmo deve ser tratado, e aí fica evidente a questão da ausência de um local apropriado para os desfiles de carnaval (sambódromo?).

A falta de organização é total, na medida em que todo mundo entra na pista de desfiles, atrapalha as evoluções das escolas e tudo o mais. Tudo bem que para evitar isso os cruzamentos teriam que estar fechados, porém o trânsito seria prejudicado durante a semana que antecede o carnaval. Mas quando não se tem um local próprio para este tipo de espetáculo, complicação no trânsito é um preço que se paga por organizar um evento da magnitude que é o carnaval de Uruguaiana.

Outro ponto que ressalto é a questão do som na avenida. Suponho que no ensaio técnico as escolas tem que ter as condições "normais" de desfile, incluindo-se aí a sonorização. Nada contra a empresa que atua no nosso carnaval, que faz o máximo que pode com a estrutura que tem, mas o patamar do espetáculo agora é outro. Muitos falarão em custos, despesas maiores. Eu falo em investimento. O som é parte muito importante para a carnaval, tanto para quem assiste, mas principalmente para a própria escola, que pode perder pontos preciosos em harmonia se houver falhas, ou mesmo diferenças no "tempo do som". Nos ensaios técnicos, além de tudo, faltavam caixas de som no longo da avenida, atrapalhando muitos componentes no canto.

Depois do carnaval vou escrever sobre minhas idéias e sugestões para contribuir, pois além de tudo, sou muito crítico, mas principalmente com o carnaval porque sou um apaixonado pela folia, e sei bem o retorno financeiro que esta festa pode trazer para o nosso município. Pena que a maioria dos dirigentes olhem só para seus umbigos, ilhados pelo seus próprios egos.

Mas vamos falar de coisas boas. Encerrando a nossa série sobre as escolas de samba do Grupo Especial, hoje vamos falar de Ilha do Marduque e Cova da Onça.


E.S. UNIDOS DA ILHA DO MARDUQUE

A azul e branco está mordida por não ter conquistado o tricampeonato em 2010. E para recuperar o primeiro posto no carnaval uruguaianense, a escola do bairro Mascarenhas de Moraes conta mais uma vez com a força de sua comunidade para colocar na passarela do samba o enredo "O sonho do Beija-Flor", uma homenagem à escola de samba carioca campeã em 2011.

Mestre sala e porta bandeira Ilha do Marduque - Carnaval 2010

Tendo desfilado com 1.200 componentes em 2010, a escola busca reconquistar a hegemonia com muito luxo, e com algumas parcerias com a própria homenageada. Apostando novamente em um desfile técnico, a agremiação conta com uma das melhores baterias do Grupo Especial. A "Baterilha", comandada pelo mestre Renatinho, dá embalo ao samba enredo complicado de cantar, porém promete contagiar na avenida.

FICHA TÉCNICA:
Nome: Escola de Samba Unidos da Ilha do Marduque
Bairro: Mascarenhas de Moraes
Fundação: 13 de Janeiro de 1977
Colocação no Carnaval 2010: vice-campeã
Cores: azul e branco
Símbolo: Esfinge
Presidente: Nico Comis
Intérprete oficial: Jorginho da Beija-Flor
Enredo: O sonho do Beija-Flor


S.R.C.E.S. UNIDOS DA COVA DA ONÇA

A atual campeã do carnaval de Uruguaiana busca manter a hegemonia e conquistar o bicampeonato com o enredo "Arroz: do Império do Meio ao Pampa Gaúcho, o grão que vale ouro". A escola, que desfilou com 1.107 componentes em 2011, trás muita garra e a força de sua comunidade, aliada a maior torcida de Uruguaiana, na busca do bi que não acontece desde 1996.


Abre alas Cova da Onça - Carnaval 2010

Mesmo com dificuldades no samba, que supostamente foi plagiado, a escola mudou a letra e conta com alegorias grandiosas e fantasias confeccionadas no Rio de Janeiro, além da bateria "Furiosa", a única em Uruguaiana com dois mestres: mestre Lucas e mestre Junior, que buscam mais um 40. No carro de som a escola traz ninguém menos que Ito Melodia, o intérprete Estandarte de Ouro do carnaval carioca.

FICHA TÉCNICA:
Nome: Sociedade Recreativa e Cultural Escola de Samba Unidos da Cova da Onça
Bairro: Boa Vista
Fundação: 16 de Janeiro de 1970
Colocação no Carnaval 2010: campeã
Cores: vermelho e branco
Símbolo: Onça
Presidente: José Carlos Zaccaro
Intérprete oficial: Ito Melodia
Enredo: Arroz: do Império do Meio ao Pampa Gaúcho, o grão que vale ouro


OBS: devido a algumas falhas no servidor, não pude postar os vídeos com os sambas de enredo das duas escolas de hoje. Segue o link para quem quiser ouvir o áudio dos sambas:

E.S. UNIDOS DA ILHA DO MARDUQUE: http://www.youtube.com/watch?v=NEsQK8yXgd4

S.R.C.E.S. UNIDOS DA COVA DA ONÇA: http://www.youtube.com/watch?v=915NIbgEzEE



Diego Moreira
Administrador, empresário e aspirante a palestrante.
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sábado, 19 de março de 2011

Sobre Deus

Olá amigos! Estarei impossibilitado de ler e escrever por duas semanas por conta de problemas de visão (na verdade, meus óculos foram para a revisão!). Por este motivo, não escreverei nada por estes dias.

Mas não quero me afastar de vocês! Por isso, decidi dividir com vocês um texto que para mim é muito importante. Por esses dias, assisti um programa religioso onde dois pastores discutiam sobre a recente tragédia no Japão, cada um com um extremo.

O primeiro dizia que havia a mão de Deus na tragédia, inclusive que isso acontecia para que o povo se convertesse. Já o outro dizia que não havia a mão de Deus, e assim sucedeu-se o debate. Essa conversa me fez recordar deste texto, que li em um tempo onde eu passava por profundas mudanças nas minhas convicções ideológicas.

O texto é de autoria de Rubem Alves, importante teólogo protestante. Leiam:

Alguém disse que gosta das coisas que escrevo, mas não gosta do que penso sobre Deus. Não se aflijam. Nossos pensamentos sobre Deus não fazem a menor diferença. Nós nos afligimos com o que os outros pensam sobre nós. Pois que lhes digo que Deus não dá a mínima. Ele é como uma fonte de água cristalina. Através dos séculos os homens tem sujado essa fonte com seus malcheirosos excrementos intelectuais. Disseram que ele tem uma câmara de torturas chamada inferno onde coloca aqueles que lhe desobedecem, por toda a eternidade, e ri de felicidade contemplando o sofrimento sem remédio dos infelizes.


Disseram que ele tem prazer em ver o sofrimento dos homens, tanto assim que os homens, com medo, fazem as mais absurdas promessas de sofrimento e autoflagelação para obter o seu favor. Disseram que ele se compraz em ouvir repetições sem fim de rezas, como se ele tivesse memória fraca e a reza precisasse ser repetida constantemente para que ele não se esqueça. Em nome de Deus os que se julgavam possuidores das idéias certas fizeram morrer nas fogueiras milhares de pessoas.


Mas a fonte de água cristalina ignora as indignidades que os homens lhe fizeram. Continua a jorrar água cristalina, indiferente àquilo que os homens pensam dela. Você conhece a estória do galo que cantava para fazer nascer o sol? Pois havia um galo que julgava que o sol nascia porque ele cantava. Toda madrugada batia as asas e proclamava para todas as aves do galinheiro: “Vou cantar para fazer o sol nascer”. Ato contínuo subia no poleiro, cantava e ficava esperando. Aí o sol nascia. E ele então, orgulhoso, dizia: “Eu não disse?”. Aconteceu, entretanto, que num belo dia o galo dormiu demais, perdeu a hora. E quando ele acordou com as risadas das outras aves, o sol estava brilhando no céu. Foi então que ele aprendeu que o sol nascia de qualquer forma, quer ele cantasse, que não cantasse. A partir desse dia ele começou a dormir em paz, livre da terrível responsabilidade de fazer o sol nascer.


Pois é assim com Deus. Pelo menos é assim que Jesus o descreve. Deus faz o sol nascer sobre maus e bons, e a sua chuva descer sobre justos e injustos. Assim não fiquem aflitos com minhas idéias. Se eu canto não é para fazer nascer o sol. É porque sei que o sol vai nascer independentemente do meu canto. E nem se preocupem com suas idéias. Nossas idéias sobre Deus não fazem a mínima diferença para Ele. Fazem, sim, diferença para nós. Pessoas que tem idéias terríveis sobre Deus não conseguem dormir direito, são mais suscetíveis de ter infartos e são intolerantes. Pessoas que tem idéias mansas sobre Deus dormem melhor, o coração bate tranqüilo e são tolerantes.


Fui ver o mar. Gosto do mar quando a praia está vazia da perturbação humana, Nas tardes, de manhã cedo. A areia lisa, as ondas que quebram sem parar, a espuma, o horizonte sem fim. Que grande mistério é o mar! Que cenários fantásticos estão no seu fundo, longe dos olhos! Para sempre incognoscível! Pense no mar como uma metáfora de Deus. Se tiver dificuldades leia a Cecília Meirales, Mar Absoluto. Faz tempo que, para pensar sobre Deus, eu não leio teólogos; leio os poetas. Pense em Deus como um oceano de vida e bondade que nos cerca. Romain Rolland descrevia seu sentimento religioso como um “sentimento religioso”. Mas o mar, cheio de vida, é incontrolável.


Algumas pessoas têm a ilusão que é possível engarrafar Deus. Quem tem Deus engarrafado tem o poder. Como na estória de Aladim e a lâmpada mágica. Nesse Deus eu não acredito. Não tenho respeito por um Deus que se deixa engarrafar. Prefiro o mistério do mar… Algumas pessoas não gostam do que penso sobre Deus porque elas deixam de acreditar que suas garrafas religiosas contenham Deus…


Rubem Alves

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