segunda-feira, 23 de maio de 2011

EU NÃO GOSTAVA DO PAPA JOÃO PAULO II!

Escrevo enquanto vejo a morte do Papa na TV. E me espanto com a imensa emoção mundial. Espanto-me também comigo mesmo: “Como eu estou sozinho!” - pensei.

Percebi que tinha de saber mais sobre mim, eu, sozinho, sem fé alguma, no meio desse oceano de pessoas rezando no Ocidente e Oriente.

Meu pai, engenheiro e militar, me passou dois ensinamentos: ele era ateu e torcia pelo América Futebol Clube. Claro que segui seus passos. Fui América até os 12 anos, quando “virei casaca” para o Flamengo (mas até hoje tenho saudade da camisa vermelha, garibaldina, do time de João Cabral e Lamartine Babo) e parei de acreditar em Deus.

Sei que “de mortuis nihil nisi bonum” (“não se fala mal de morto”), mas devo confessar que nunca gostei desse Papa.

Por quê? Não sei. É que sempre achei, nos meus traumas juvenis, que Papa era uma coisa meio inútil, pois só dava opiniões genéricas sobre a insânia do mundo, condenando a “maldade” e pedindo uma “paz” impossível, no meio da sujeira política.

Quando João Paulo entrou, eu era jovem e implicava com tudo. Eu achava vigarice aquele negócio de fingir que ele falava todas as línguas. Que papo era esse do Papa? Lendo frases escritas em partituras fonéticas... Quando ele começou a beijar o chão dos países visitados, impliquei mais ainda. Que demagogia! - reinando na corte do Vaticano e bancando o humilde...

Um dia, o Papa foi alvejado no meio da Praça de São Pedro, por aquele maluco islâmico, prenúncio dos tempos atuais. Eu tenho a teoria de que aquele tiro, aquela bala terrorista despertou-o para a realidade do mundo. E o Papa sentiu no corpo a desgraça política do tempo. Acho que a bala mudou o Papa. Mas fiquei irritadíssimo quando ele, depois de curado, foi à prisão “perdoar” o cara que quis matá-lo. Não gostei de sua “infinita bondade” com um canalha boçal. Achei falso seu perdão que, na verdade, humilhava o terrorista babaca, como uma vingança doce.

E fui por aí, observando esse Papa sem muita atenção. É tão fácil desprezar alguém, ideologicamente... Quando vi que ele era “reacionário” em questões como camisinha, pílula e contra os arroubos da Igreja da Libertação, aí não pensei mais nele...Tive apenas uma admiração passageira por sua adesão ao Solidariedade do Walesa mas, como bom “materialista”, desvalorizei o movimento polonês como “idealista”, com um Walesa meio “pelego”. E o tempo passou.

Depois da euforia inicial dos anos 90, vi que aquela esperança de entendimento político no mundo, capitaneado pelo Gorbatchev, fracassaria. Entendi isso quando vi o papai Bush falando no Kremlin, humilhando o Gorba, considerando-se “vitorioso”, prenunciando as nuvens negras de hoje com seu filhinho no poder.

Senti que o sonho de entendimento socialismo-capitalismo ia ser apenas o triunfo triste dos neo-conservadores. O mundo foi piorando e o Papa viajando, beijando pés, cantando com Roberto Carlos no Rio. Uma vez, ele declarou: “A Igreja Católica não é uma democracia”. Fiquei horrorizado naquela época liberalizante e não liguei mais para o Papa “de direita”.

Depois, o Papa ficou doente, há dez anos. E eu olhava cruelmente seus tremores, sua corcova crescente e, sem compaixão alguma, pensava que o Pontífice não queria “largar o osso” e ria, como um anticristo.

Até que, nos últimos dias, João Paulo II chegou à janela do Vaticano, tentou falar... e num esgar dolorido, trágico, foi fotografado em close, com a boca aberta, desesperado.

Essa foto é um marco, um símbolo forte, quase como as torres caindo em NY. Parece um prenúncio do Juízo final, um rosto do Apocalipse, a cara de nossa época. É aterrorizante ver o desespero do homem de Deus, do Infalível, do embaixador de Cristo. Naquele momento, Deus virou homem.

E, subitamente, entendi alguma coisa maior que sempre me escapara: aquele rosto retorcido era o choro de uma criança, um rosto infantil em prantos!

O Papa tinha voltado a seu nascimento e sua vida se fechava.

Ali estava o menino pobre, ex-ator, ex-operário, ali estavam as vítimas da guerra, os atacados pelo terror, ali estava sua imensa solidão igual à nossa. Então, ele morreu.

E ontem, vendo os milhões chorando pelo mundo, vendo a praça cheia, entendi de repente sua obra, sua imensa importância. Vendo a cobertura da Globo, montando sua vida inteira, seus milhões de quilômetros viajados, da África às favelas do Nordeste, entendi o Papa. Emocionado, senti minha intensíssima solidão de ateu. Eu estava fora daquelas multidões imensas, eu não tinha nem a velha ideologia esfacelada, nem uma religião para crer, eu era um filho abandonado do racionalismo francês, eu era um órfão de pai e mãe.

Aí, quem tremeu fui eu, com olhos cheios d’água. E vi que Karol Wojtyla, tachado superficialmente de “conservador”, tinha sido muito mais que isso. Ele tinha batido em dois cravos: satisfez a reacionaríssima Cúria Romana implacável e cortesã e, além disso, botou o pé no mundo, fazendo o que italiano algum faria: rezar missa para negões na África e no Nordeste, levando seu corpo vivo como símbolo de uma espiritualidade perdida. O conjunto de sua obra foi muito além de ser contra ou a favor da camisinha.

Papa não é para ficar discutindo questões episódicas. É muito mais que isso. Visitou o Chile de Pinochet e o Iraque de Saddam e, ao contrário de ser uma “adesão alienada”, foi uma crítica muito mais alta, mostrando-se acima de sórdidas políticas seculares, levando consigo o Espírito, a ideia de Transcendência acima do mercantilismo e ditaduras. E foi tão “moderno” que usou a “mídia” sim, muito bem, como Madonna ou Pelé.

E nisso, criticou a Cúria por tabela, pois nenhum cardeal sairia do conforto dos palácios para beijar pé de mendigo na América Latina. João Paulo cumpriu seu destino de filósofo acima do mundo, que tanto precisa de grandeza e solidariedade.

Sou ateu, sozinho, condenado a não ter fé, mas vi que se há alguma coisa de que precisamos hoje é de uma nova ética, de um pensamento transcendental, de uma espiritualidade perdida. João Paulo na verdade deu um show de bola.

Arnaldo Jabor



Diego Moreira
Administrador, empresário e aspirante a palestrante.
Apaixonado por carnaval, música, cerveja e mulher (não necessariamente nessa mesma ordem!), é torcedor fanático do Colorado e da Escola de Samba Unidos da Cova da Onça. Acredita no potencial humano, porém anda um pouco desacreditado com a humanidade como um todo.
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terça-feira, 17 de maio de 2011

O MISTÉRIO AZUL

Todos devem ter visto a rodada dos campeonatos estaduais neste fim de semana último. Com certeza, a final mais emocionante de todos os estaduais foi a gaúcha, com um greNAL como há muito não se via.

Emoção, raça, entradas firmes (porém leais), e claro, bom futebol. A final da Gauchão demonstrou a paixão gaúcha pelo futebol, e ao assistir o jogo fiquei a me perguntar: qual será o grande mistério azul?

O que faz com que um simples clube de futebol arraste milhares de pessoas para um estádio com o estado de conservação no mínimo duvidoso? O que leva torcedores a exaltar Junior Viçosa como craque? E por último: o que leva um time a se auto proclamar imortal (logicamente, com toda a humildade) e chamar de "épico" um título da segunda divisão nacional?

Sinceramente, pensei várias vezes nisso, sem encontrar respostas. Porém, ao terminar o jogo do último domingo, consegui deslumbrar a resposta ao enigmático mistério azul.

A resposta foi uma surpresa para mim, ainda mais sendo descoberta em uma derrota azul. O imortal havia sucumbido, e eu não conseguia acreditar nisso! Como? Com a vantagem do empate, jogando em casa, a torcida empurrando o time... Como pôde o imortal tricolor da Azenha descer do Olimpo e se tornar um reles mortal? Como?

Com a vitória colorada em pleno olímpico, vendo o contraste da alegria colorada e a tristeza tricolor, finalmente descobri o grande mistério azul...

Com um sorriso no canto dos lábios, descobri que o mistério azul é... VERMELHO!

VERMELHO DO SPORT CLUB INTERNACIONAL!

Parabéns pelo 40º. título gaúcho!

A propósito: esta terra tem dono!



Diego Moreira
Administrador, empresário e aspirante a palestrante.
Apaixonado por carnaval, música, cerveja e mulher (não necessariamente nessa mesma ordem!), é torcedor fanático do Colorado e da Escola de Samba Unidos da Cova da Onça. Acredita no potencial humano, porém anda um pouco desacreditado com a humanidade como um todo.
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sexta-feira, 6 de maio de 2011

FALTA DE FAMÍLIA

Nossa sociedade está entrando em colapso.

Alguém já se perguntou o porquê de tanta violência, tanta falta de educação, falta de consideração, e outras coisas?

Na minha visão, a nossa sociedade somente está neste estágio por causa da família. Ou melhor, pela falta da família.

Você pode me perguntar: Mas como assim falta de família?

E eu respondo! Para mim é uma questão simples. Deixamos de viver em comunidade (temos de viver assim para o bom andamento da sociedade), e a família é a primeira comunidade onde vivemos, e onde temos as primeiras noções e ensinamentos sobre valores, ética, honestidade, etc.

Como maior exemplo hoje sobre o que falo, temos o casamento. Algo que deveria ser para a vida inteira, dura, algumas vezes, meses, ou poucos anos. E agora quem pergunta sou eu:

Como se desenvolve uma criança com pais separados? Não que os pais separados não tenham condições ou capacidade de criar seus filhos, mas acontece que se perde aquele referencial que você e eu temos de família, de convivência, de respeito ao espaço do outro, da referência de respeito e partilha com o próximo.

Hoje casar é muito fácil. E se separar é mais fácil ainda. Também tenho uma teoria sobre isso. Pergunte a qualquer jovem de 16, 18 ou 20 anos, quando ele pretende casar. A maioria das respostas será algo do tipo "depois que eu tiver uma profissão e estabilidade financeira, uma casa ou um carro" e coisas do tipo. Ninguém se importa mais de achar a pessoa certa, mas sim de ter o "tempo" certo. Temos que ensinar aos jovens que o amor não tem tempo.

Então, estes jovens se casam já com a vida relativamente construída. Mas não é mais como antigamente, quando um casal recém casado começava sua vida matrimonial do zero, quase sempre em uma casa alugada e com poucos móveis. E esses casamentos é que duraram (e duram) 40, 50 anos ou mais.

Hoje não se constrói nada junto. Quando casamos, ou casarmos, já teremos construído a nossa vida. Fica muito mais fácil se separar, não há uma história construída, pois cada um já tem a sua história. O bonito de um casamento é exatamente a construção de algo em conjunto, pois é exatamente isso que constrói uma base sólida para que uma relação possa durar algumas décadas.

Como eu disse, existe uma falta de família, que está se refletindo na nossa sociedade, e consequentemente na nossa vida. Será que ainda dá tempo?


Diego Moreira
Administrador, empresário e aspirante a palestrante.
Apaixonado por carnaval, música, cerveja e mulher (não necessariamente nessa mesma ordem!), é torcedor fanático do Colorado e da Escola de Samba Unidos da Cova da Onça. Acredita no potencial humano, porém anda um pouco desacreditado com a humanidade como um todo.
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