quarta-feira, 2 de março de 2011

Carnaval - Parte I

Olá caros leitores! Primeiramente quero pedir mil desculpas por meu breve afastamento de vocês, a saudade apertou e eu voltei!

Hoje serei um tanto bairrista. Quero falar do famoso carnaval fora de época de Uruguaiana/RS (minha amada cidade). Falar desse evento aqui nesses pagos dá muito “pano prá manga”. Vai ao âmago do cidadão uruguaianense, mexe com as vaidades de muita gente, e como minha função é analisar e dar “pitacos”, com uma certa visão financeira e política, vou tentar comentar um pouco. É claro, este assunto mexe comigo também.

Não sei quanto a vocês, amigos, mas estou um tanto preocupado com a saúde financeira de nosso carnaval, tanto na organização geral da festa quanto nas bases (escolas). Tenho conversado com algumas lideranças das agremiações e todos falam com certa preocupação quando se trata em dívidas que ficaram para trás, o que é normal, pois não há como dar o andamento sem fazer contas.

A problemática é quando as contas não são pagas, e pra piorar, as novas estão chegando, e complicando mais, não há como não perceber a dificuldade de captar recursos pra este carnaval. Tanto que nosso “comandante” municipal já entregou para escolas alguns camarotes, de forma que elas mesmas tentem vender. Aí já da pra imaginar que a situação está crítica, pois para nosso prefeito soltar as rédeas e abdicar de sua total influência, é sinal que não quer se "queimar".

Não quero ser apocalíptico, mas mesmo para quem só gosta do “pão e circo”, já percebeu que o “pão” está ficando escasso e o “circo” está perdendo seu brilho ano a ano. Nosso espetáculo já não está mais como os dos primeiros anos, e algumas escolas estão muito endividadas. Até aqui nenhuma novidade...

Mas aí nos perguntamos: “será que nosso carnaval terá o mesmo rumo da ‘fantasmagórica’ Califórnia"? Porque chegamos a tal situação? Será só uma crise, ou é o modelo que construímos?

Para mim a pergunta que não cala é: “quem realmente lucrou com o carnaval?”

Será que para nós restou apenas vender cachorro quente, churrasquinho, refrigerante e cerveja (nada contra, pois já vendi nas ruas)? Mas até quando o melhor da festa vai ficar para os estrangeiros? Até quando vamos gerar riqueza para cariocas, paulistas, porto alegrenses...

Não estou sugerindo tornar nosso carnaval uma festa provinciana, é óbvio que precisamos de marketing para vender nosso evento. Mas sem sombra de dúvidas, muitas das dívidas atuais são por causa desta insustentável mania de nos acharmos incompetentes. Vi um casal de mestre sala e porta bandeira carioca, que custou cerca de vinte mil, atravessar a avenida bêbados, e mesmo assim tirar 10. Com certeza vão dizer: “Pra ti ver como os caras são bons!” Mas é óbvio que o compadre que está de jurado não vai "tirar a bóia" dos seus amigos.

Será que somos tão “burros”, ou temos uma grande vocação para babacas?

E para variar, ainda há o fator vaidade, não suportamos ver gente nossa ter sucesso, preferimos ser “puxas” de pessoas que nem sabemos de que “buraco” saíram. Observei o casal Graciano e Rose da escola de samba Unidos da Cova da Onça dar um show, e sair bem, tirar 10 no primeiro ano, não perder em nada para os casais do Rio, é claro, ganharam até tapinha nas costas. Logo, no próximo ano, receberam aquela nota ridícula de 7,5 que não mereciam, e assim, percebi gente que falava bem do casal começar a dizer: “Não tem condição, tem que trazer casal de fora mesmo”.

Por uma engraçada coincidência quem os acompanhava substituiu no ano seguinte.

Puxa vida, até quando? Nossos dirigentes choram para pagar dois salários para nossos artistas, que estão disponíveis o ano inteiro. Mas para os de fora dão VINTE MIL, para desfilar uma ou duas noites, e ainda dizem que está barato. Fora estadia, passagem, alimentação e todas as mordomias. Só que, onde eles gastam o que nossos dirigentes pagam? É aqui que fazem “girar" essa grana? Afinal não é o que sempre se diz, que o carnaval gera renda? Onde?

Com todos estes custos e altos cachês daria bem para por as contas em dia, e ainda sobrar uns trocados para a gurizada. Amigos, estamos pagando por certas escolhas que foram feitas. Algumas deram muito certo, como trazer artistas bem conhecidos(as) para atrair holofotes para a nossa folia. Claro, apenas um exemplo de várias boas idéias. Outras já se mostraram insustentáveis, e precisam ser corrigidas antes que seja tarde. Percebe-se um movimento inflacionário às voltas de nosso carnaval.

As dívidas tem se apresentado mais sólidas ano a ano, o que já indica uma formação de “bolha”, este é momento de fazer sacrifícios e conter os gastos, por a casa em ordem, mais dois anos assim pode ser tarde.

O problema é quem vai ter a coragem de fazer isso? Pois todos gostam de ter a imagem de “bonzinhos”, e não querem queimar seu filme. E o carnaval é um belo palanque, para esses “famintos por status e dindim”.

Na próxima falamos de status e “dindim”, e boas idéias.


Jorge Martins

Empresário e corretor de seguros.

Tem uma perspectiva crítico-analítica sobre a nossa sociedade. Muitas vezes irônico e sarcástico, é intelectual e excêntrico nas horas vagas.

MSN: jlmartins87@hotmail.com

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